Os governantes portugueses não apresentam a única competência que lhes é obrigatória: capacidade para governar.
Podem ser militantes devotos dos seus partidos, grandes malabaristas da retórica e até poços de carisma, mas raramente são hábeis a gerir os interesses públicos. Entristece-me constatar que é possível ter uma longa carreira política em Portugal sem qualquer competência de gestão. Basta-me ser um assíduo e eloquente partidário para que vá saltando de cargo em cargo sem nunca me ser exigido que perceba dos assuntos que estou a administrar. Em Portugal, criou-se este degradante hábito de escolher pessoas de confiança política para os mais variados cargos públicos em detrimentos de indivíduos com currículos técnicos apropriados.
O ato de governar não pode estar reduzido à atribuição de despachos positivos ou negativos nos processos e projetos. Tem de ser mais do que isso. É fundamental ter uma noção global e sistémica das matérias em causa e, sobretudo, melhorar a condição presente e preparar a circunstância futura. Ou seja, ter conhecimento de causa, capacidade para atuar e uma visão.
É frustrante perceber que em Portugal não há um mecanismo que impeça ou, pelo menos, questione a competência das pessoas que são designadas para os cargos públicos. Entristece-me conhecer, quase diariamente, novos casos de corrupção, abuso de poder e de confiança por parte dos nossos governantes, que encontram formas criativas de defraudar o erário português.
É urgente realizar uma revisão constitucional que garanta a idoneidade das pessoas escolhidas para os cargos públicos. É fundamental governar os governantes.