Em nome do Facebook, do Instagram e do Youtube. Ámen!

Está a decorrer a V edição das Jornadas de Comunicação, organizadas pelo Serviço Diocesano da Pastoral das Comunicações Sociais, em Angra do Heroísmo. Dedicadas ao tema «As redes sociais: itinerários para um encontro», o primeiro de dois dias de trabalhos já permitiu concluir que a a Igreja açoriana tem de se integrar nestas plataformas com vista à promoção da fé cristã. Falou-se no desafio das fake news e da fragilidade de todos nós, sobretudo das crianças, no mundo virtual. Atiraram-se pedras ao sistema educativo, denunciando o facto de não estar preparado para educar [futuros] cidadãos no uso responsável da internet. Por fim, constatou-se que a promoção «do bem» no ciberespaço é uma responsabilidade de cada um de nós.

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Aponta-se, desde já, a ironia: num encontro onde se reúnem comunicação social e Igreja para falar sobres as redes sociais, conclui-se que a segunda tem de usar estas plataformas porque são mais eficazes que a primeira.

O propósito deste encontro é pertinente, contudo não foram feitas as perguntas certas:

  • QUAL É O PAPEL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL HOJE, onde os consumidores de informação são também produtores (prosumer) e onde os organismos públicos e  respetivos dirigentes, através das redes sociais, podem comunicar diretamente com as pessoas?
  • COMO É QUE UM ÓRGÃO DE COMUNICAÇÃO HOJE PODE PREPARAR-SE PARA O FUTURO, quando luta pela atenção do consumidor na diversidade de conteúdos a que este tem acesso?
  • HÁ FUTURO PARA OS ORGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL?

Os órgãos de comunicação social já não são os monopólios que foram e, devido aos seus compromissos comerciais com publicidade, parceiros e pagamento de ordenados, não conseguem competir com os influencers das redes sociais que têm muito menos a perder.

Também não é benéfico que a comunicação social se sinta superior ao poder da rede ou que se faça de vítima. A internet não é nova e já tem história e memória. Recorda-se o que aconteceu com a indústria discográfica nos anos zero, quando tentaram impedir o download de músicas. A luta resultou em pouco mais do que umas leis toscas que de pouco ou nada serviram. No fim, os barões da música entenderam que não poderiam lutar contra o mundo digital e passaram a usá-lo como uma ferramenta. Hoje, o universo virtual é fundamental para qualquer artista, mesmo fora do âmbito musical. A comunicação social deve tomar um rumo semelhante, olhando para a internet como uma oportunidade para melhorar o seu trabalho junto dos cidadãos. A rede, por natureza, indica quais são as pessoas, objetos e assuntos que despertam interesse e os orgãos de comunicação social têm as ferramentas para que a transmissão de ideias seja bem efetuada.

Quanto ao uso das redes sociais pela Igreja açoriana, será necessário que formem os seus quadros para que as saibam utilizar. Caso contrário será um foco permanente de polémicas e escândalos, sobretudo numa sociedade [ainda] conservadora como a nossa.

A comunicação social e a Igreja desempenham um papel importante na vida do povo e não podem, de forma alguma, comprometer essa responsabilidade. Assim, devem utilizar todos os meios ao seu alcance, novos ou velhos, para garantir que continuam a ser um pilar na integridade social açoriana.